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Tuesday 1 June 2010

CRESCER (o outro lado da INFÂNCIA)



Banksy



Cidade de Deus. Menino das Laranjas. Verdura. Viver até crescer e a vida melhorar. Voltar e tomar um sol em Copacabana.
Visitar o lugar da infância, do trauma, da trama, da calça de ganga, da gola alta, da franja. Da encosta, do beijo, da aposta, do desejo nunca concretizado. O diário nunca violado, esquecido, guardado. Pó da vida. Décadas de existência, resistência, insistência, persistência, PACIÊNCIA. Tias, famílias de tias, jantares dos grandes, conversas chatas, intermináveis, indistintas, sempre moléculas de aborrecimento a pairar por cima dos cinzeiros, cigarros mal apagados, refogados e mais refogados, bolos queimados, feitos sem TERnura nem precisão. Beijos melados, abraços demasiado apertados, visitas a desconhecidos. Esperas, tédios, tempos monopolizados pelos mais velhos – os chatos. Lama na estrada, poeira na garganta, quarentena, gripe, sarampo, tosse na aula, sono muito sono, NÃO conseguir controlar. Acordar sempre no melhor do sonho, corar, não ser capaz de decorar, de entender, de responder, vergonha, medo, incerteza. Brincadeiras destruídas, crescer. Mentiras reveladas, entristecer. Não ser sempre criança. Acreditar na mentira para o nosso próprio bem. Não sermos nós a decidir, termos de ser nós a decidir. Ficar sozinho muito tempo, não saber estar sozinho. Não termos culpa, sermos apanhados. Sermos castigados sem ter culpa. Termos medo e inveja ao mesmo tempo. Termos raiva, muita raiva, dar pontapés, partir o brinquedo. Perder o brinquedo numa viagem de carro, enjoar, vomitar. Sapatos apertados, passos trocados, cair no meio do recreio. Ir ao quadro, não saber a tabuada. Vestir uma roupa horrível que não fomos nós que escolhemos. A pastilha que perdeu o sabor, a mosca que caiu na sopa, a sopa entornada, comida que se detesta, mastigar sem engolir, ser obrigado a engolir. A borbulha, o dentista, o piropo. O apertão nas bochechas, a mão no cabelo, o apalpão. Não sermos levados a sério, ninguém rir da nossa piada. Tudo é difícil, tudo é horrível. LIVRA!