Sou da tribo dos poetas
dos desalinhados
dos equilibristas a viver
os desequilibrios do mundo.
Os que preferem os pés
a enterrarem-se em diagonais na areia
à certeza do asfalto ou à aridez do betão,
a esquadrinhar por dentro a alma
e a vida da gente.
Sou dos que se comovem com a inclinação perfeita
da elipse do voo
Que olham maravilhados o desenho que a imaginação
risca no céu.
Para quem tudo é agora:
o gosto da comida na boca,
a memória do gosto.
Como antepassados
que voltam sempre a visitar-nos
(ou nunca chegam a partir
apenas fazem elipses mais vastas nos seus voos).
[O recorte na paisagem a encaixar de forma tão precisa
no que estamos a sentir]
Somos movidos a energias
renováveis - tudo se move
e tudo é constante -
intensidades de azuis e neblinas
águas frias e moinhos de vento
norte nora sul seca
chamas sinos braços
amparo
colo
tudo
Agosto 2022