Search This Blog

Thursday 5 February 2009

Idosos


Gosto dos idosos. Gosto da pele deles quando já está muito lisa, usada, gasta, mas polida, bonita. Gosto das rugas das mãos e do rosto. O toque das mãos que é sempre preciso, mesmo quando trémulo; que é sempre cuidadoso, suave, pausado. Tem tanto de peso como de leveza. É a medida exacta que o tempo depurou. Assim como a expressão dos seus rostos – descansada – sem o artifício contorcido da luta pela sobrevivência quotidiana. Por vezes consegue perceber-se fugaz essa expressão no rosto de quem ainda luta; para, logo depois, se apagar para a retoma das coisas necessárias da vida. Enquanto ainda são necessárias; enquanto ainda acreditamos nelas. Enquanto ainda acreditamos que é isso que determina a nossa importância e o nosso destino. Na expressão dos idosos há qualquer coisa de longo, de constante; qualquer coisa de iluminado que se mostra com uma translucidez imediata e que nos chama e nos acalma, porque nos diz exactamente aquilo que pensamos que é: a vida. No fim, um dia, tudo será assim... Para quê a pressa?

No comments: